Trecho do livro "O arroz de palma" de Francisco Azevedo
Foto: Casamento realizado em São Paulo/Capital, aos 04 de maio de 1952,
de Tertuliana Naves Pinto Lopes - a Telly (n.1930 - f.1989) com o capitão
(FAB) Walther Lopes (n.1925 - f.1970).
Telly, então bisneta de João
Naves Damasceno II Cc. Maria Abadia Naves
Fonte: Cap. VI, § 7º, seção 2 -
Antônio Naves Damasceno Cc. Tertuliana Carolina de Jesus - a Tertuliana Vieira
Naves
http://familiaresnaves.blogspot.com/2008/11/1-joo-naves-damasceno68-cc-maria-abadia.html
Família é
prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema,
principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela,
fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir.
Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta
de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida - azeitona
verde no palito - sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito
milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas.
Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade.
Sicrano - quem diria? - solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais
gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe.
Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É,
você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu
no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais
prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí
reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e
antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí?
Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome
alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não
se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo.
De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro
cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas
com delicadeza, estas especiarias - que quase sempre vêm da África e do Oriente
e nos parecem estranhas ao paladar - tornam a família muito mais colorida,
interessante e saborosa.
Atenção
também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto,
é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de
ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser
profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter
a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a
família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que
ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo
ilusão. Não existe “Família à Oswaldo Aranha”, “Família à Rossini”, Família à
“Belle Meunière” ou “Família ao Molho Pardo” - em que o sangue é fundamental
para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa
gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias
doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm
gosto de nada - seriam assim um tipo de “Família Diet”, que você suporta só
para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre
quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Há famílias, por exemplo, que levam muito tempo para
serem preparadas. Fica aquela receita cheia de recomendações de se fazer assim
ou assado - uma chatice! Outras, ao contrário, se fazem de repente, de uma hora
para outra, por atração física incontrolável - quase sempre de noite. Você
acorda de manhã, feliz da vida, e quando vai ver já está com a família feita.
Por isso é bom saber a hora certa de abaixar o fogo. Já vi famílias inteiras
abortadas por causa de fogo alto.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa.
A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no
dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro
aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente
na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro
pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é
prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não
ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na
louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que,
quando se acaba, nunca mais se repete.
Foto: Casamento realizado em São Paulo/Capital, aos 04 de maio de 1952,
de Tertuliana Naves Pinto Lopes - a Telly (n.1930 - f.1989) com o capitão
(FAB) Walther Lopes (n.1925 - f.1970).
Telly, então bisneta de João
Naves Damasceno II Cc. Maria Abadia Naves
Fonte: Cap. VI, § 7º, seção 2 -
Antônio Naves Damasceno Cc. Tertuliana Carolina de Jesus - a Tertuliana Vieira
Naves
http://familiaresnaves.blogspot.com/2008/11/1-joo-naves-damasceno68-cc-maria-abadia.html
Família é
prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema,
principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela,
fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir.
Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta
de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida - azeitona
verde no palito - sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito
milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas.
Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade.
Sicrano - quem diria? - solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais
gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe.
Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É,
você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu
no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais
prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí
reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e
antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí?
Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome
alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não
se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo.
De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro
cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas
com delicadeza, estas especiarias - que quase sempre vêm da África e do Oriente
e nos parecem estranhas ao paladar - tornam a família muito mais colorida,
interessante e saborosa.
Atenção
também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto,
é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de
ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser
profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter
a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a
família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que
ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo
ilusão. Não existe “Família à Oswaldo Aranha”, “Família à Rossini”, Família à
“Belle Meunière” ou “Família ao Molho Pardo” - em que o sangue é fundamental
para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa
gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias
doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm
gosto de nada - seriam assim um tipo de “Família Diet”, que você suporta só
para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre
quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Há famílias, por exemplo, que levam muito tempo para
serem preparadas. Fica aquela receita cheia de recomendações de se fazer assim
ou assado - uma chatice! Outras, ao contrário, se fazem de repente, de uma hora
para outra, por atração física incontrolável - quase sempre de noite. Você
acorda de manhã, feliz da vida, e quando vai ver já está com a família feita.
Por isso é bom saber a hora certa de abaixar o fogo. Já vi famílias inteiras
abortadas por causa de fogo alto.
Gostei muito dessa crônica... realmente família tem que ser "à moda da casa...." e para chegar à uma receita realmente inigualável demora um tempinnho, requer paciência, exige habilidades variadas, uma pitada muito bem calibrada de criatividade e, claro, amor à vontade!
ResponderExcluirCordialmente...
Reitero suas palavras, caro Ir. Kleber. No teor "à moda da casa", com o equilíbrio dos ingredientes que relacionou, reside o sucesso da iguaria!
ExcluirFraternalmente...
Recordar é viver! Ameiiii este tópico texto comparando família com comilança, e é bem assim mesmo, difícil mas inesquecível...
ResponderExcluirObrigado pela participação e palavras NAVESPK.
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