quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Falece o ator John Hebert.

Aos 81 anos, morre John Hebert ator de “O caso dos Irmãos Naves”


John Hebert faz a personagem do advogado João Alamy Filho que defende os Irmãos Naves do crime em que foram acusados de assassinato. Os irmãos Naves, inocentes e suspeitos do crime, são torturados e tornados culpados antes do julgamento.



Morreu no início da tarde desta quarta-feira, dia 26, o ator John Hebert. Ele havia sido internado no Hospital do Coração em 5 de janeiro, após ter um quadro de insuficiência respiratória. O artista estava com 81 anos e foi vítima de um enfisema pulmonar. O velório acontece no MIS (Museu de Imagem e Som), em São Paulo.




No inicio de carreira, já fazendo sucesso no teatro, o jovem ator estourou na nascente televisão brasileira. Em 1952, John foi convidado a participar de teleteatros e não demorou muito para que ele estrelar na TV Tupi o primeiro seriado da televisão brasileira, o famoso “Alô Doçura”, ao lado de Eva Wilma, com que se casou. Eles formaram o primeiro e – durante anos – imbatível par romântico da TV.

Foto à direita - A atriz Eva Wilma, com quem John foi casado, contracena com Altair Lima, protagonista da novela de Ivani Ribeiro, "A viagem", da extinta TV Tupi .
Altair Vieira de Faria Naves Pinto - o Altair Lima, filho de Alzira Naves Vieira Pinto cc. José Pinto Júnior - O Palhaço Aleluia, neto de Antônio Naves Damasceno cc. Tertuliana Carolina de Jesus, bisneto de João Naves Damasceno cc. Maria da Abbadia da Conceição - ou Maria Abadia Naves, trineto de José Francisco Naves 6_ cc. Anna Roza de Jesus - a Ana Rosa Naves



John esteve nos principais canais do Brasil: Tupi, Globo, Record, Manchete, SBT e também na Bandeirantes. No cinema, foi ator junto com outras grandes estrelas no filme “O Caso dos Irmãos Naves”, filme baseado em fatos reais que narra a história de uma família em que seus dois irmãos são acusados de terem matado um sócio, seu primo. Suspeitos, são torturados, juntamente com sua mãe e outros familiares. Veja matéria na sequencia.



A Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, lamentou a morte do ator em nota divulgada na tarde desta quarta: “A televisão, o cinema e o teatro não terão mais a presença do grande artista John Herbert, que tanto contribuiu para o desenvolvimento das artes no Brasil. Mas seu trabalho está eternizado ao longo dos mais de cinquenta anos de carreira. Envio os meus sentimentos aos familiares, aos amigos e todos que acompanharam o seu amor pela profissão.”

 
 
O MAIOR ERRO JUDICIÁRIO DO BRASIL

O Caso dos Irmãos Naves

narrado por Rogério Schietti Machado Cruz

Promotor de Justiça do MPDFT

Considerado o maior erro judiciário do Brasil. Aconteceu na cidade mineira de Araguari, em 1937. Os irmãos Naves (Sebastião, de 32 anos de idade, e Joaquim, contando 25), eram simplórios trabalhadores que compravam e vendiam cereais e outros bens de consumo.

Joaquim Naves era sócio de Benedito Caetano. Este comprara, com auxílio material de seu pai, grande quantidade de arroz, trazendo-o para Araguari, onde, preocupado com a crescente queda dos preços, vende o carregamento por expressiva quantia.

Na madrugada de 29 de novembro de 1937, Benedito desaparece de Araguari, levando consigo o dinheiro da venda do arroz. Os irmãos Naves, constatando o desaparecimento, e sabedores de que Benedito portava grande importância em dinheiro, comunicam o fato à Polícia, que imediatamente inicia as investigações.

O caso é adrede atribuído ao Delegado de Polícia Francisco Vieira dos Santos, personagem sinistro e marcado para ser o principal causador do mais vergonhoso e conhecido erro judiciário da história brasileira. Militar determinado e austero (Tenente), o Delegado inicia as investigações e não demora a formular a sua convicção de que os irmãos Naves seriam os responsáveis pela morte de Benedito.

A partir de então inicia-se uma trágica, prolongada e repugnante trajetória na vida de Sebastião e Joaquim Naves, e de seus familiares.

Submetidos a torturas as mais cruéis possíveis, alojados de modo abjeto e sórdido na cela da Delegacia, privados de alimentação e visitas, os irmãos Naves resistiram até o esgotamento de suas forças físicas e morais. Primeiro Joaquim, depois Sebastião.

A perversidade do Tenente Francisco não se limitou aos indiciados. Também as esposas e até mesmo a genitora deles foram covardemente torturadas, inclusive com ameaças de estupro, caso não concordassem em acusar os maridos e filhos.

A defesa dos irmãos Naves foi exercida com coragem e perseverança pelo advogado João Alamy Filho, que jamais desistiu de provar a inocência de seus clientes, ingressando com habeas corpus, recursos e as mais variadas petições, na busca de
 demonstrar às autoridades responsáveis pelo processo o terrível

equívoco que estava sendo cometido.


Iniciado o processo, ainda sob as constantes e ignominiosas ameaças do Tenente Francisco, os irmãos Naves são pronunciados para serem levados ao Tribunal do Júri, sob a acusação de serem autores do latrocínio de Benedito Caetano, ao passo que a mãe dos irmãos, D. Ana Rosa Naves, é impronunciada.

Na sessão de julgamento, a verdade começa a surgir, com a retratação das confissões extorquidas na fase policial, e, principalmente, com o depoimento de outros presos que testemunharam as seguidas e infindáveis sevícias sofridas pelos acusados na Delegacia de Polícia.

Dos sete jurados, seis votam pela absolvição dos irmãos Naves.

A promotoria, inconformada, recorre ao Tribunal de Justiça, que anula o julgamento, por considerar nula a quesitação.

Realizado novo julgamento, confirma-se o placar anterior: 6 X 1. Tudo indica que os irmãos Naves seriam finalmente libertados da triste desdita iniciada meses antes. Ledo engano: o Tribunal de Justiça resolve alterar o veredito (o que era então possível, mercê da ausência de soberania do Júri no regime ditatorial da Constituição de 1937), condenando os irmãos Naves a cumprirem 25 anos e 6 meses de reclusão (depois reduzidos, na primeira revisão criminal, para 16 anos).

Após cumprirem 8 anos e 3 meses de pena, os irmãos Sebastião e Joaquim, ante comportamento prisional exemplar, obtêm livramento condicional, em agosto de 1946.

Joaquim Naves falece, como indigente, após longa e penosa doença, em 28 de agosto de 1948, em um asilo de Araguari. Antes dele, em maio do mesmo ano, morria em Belo Horizonte seu maior algoz, o tenente Francisco Vieira dos Santos.

De 1948 em diante, o sobrevivente Sebastião Naves inicia a busca pela prova de sua inocência. Era preciso encontrar o rastro de Benedito, o que vem a ocorrer, por sorte do destino, em julho de 1952, quando Benedito, após longo exílio em terras longínquas, retorna à casa dos pais em Nova Ponte, sendo reconhecido por um conhecido, primo de Sebastião Naves.

Avisado, Sebastião apressa-se em dirigir-se a Nova Ponte, acompanhado de policiais, vindo a encontrar o “morto” Benedito, que, assustado, jura não ter tido qualquer notícia do que ocorrera após a madrugada em que desapareceu de Araguari. Coincidentemente, dias após sua efêmera prisão e o citado juramento, toda a família de Benedito morre tragicamente, na queda do avião que os transportava a Araguari, onde prestariam esclarecimentos sobre o desaparecimento daquele.

O caso passou a ser nacionalmente conhecido. A imprensa o divulgou com o merecido destaque. A mesma população que, influenciada pela autoridade do delegado, inicialmente aceitava como certa a culpa dos irmãos Naves, revoltava-se com o ocorrido, tentando, inclusive, linchar o desaparecido Benedito.

Em nova revisão criminal, os irmãos Naves foram finalmente inocentados, em 1953.

Como etapa final e ainda custosa e demorada, iniciou-se processo de indenização civil pelo erro judiciário.

Em 1956 foi prolatada a sentença, que mereceu recursos pelo Estado, até que, em 1960, vinte e dois anos após o início dos suplícios, o Supremo Tribunal Federal conferiu a Sebastião Naves e aos herdeiros de Joaquim Naves o direito à indenização.

No livro “O CASO DOS IRMÃOS NAVES, UM ERRO JUDICIÁRIO” (Ed. Del Rey, 3ª ed., Belo Horizonte, 1993), o advogado dos irmãos Naves, João Alamy Filho, dá a sua interpretação das condições que tornaram possível esse tremendo erro: estávamos sob nova ditadura. Não havia garantias legais. Subvertia-se a ordem democrática, extinto o Legislativo, o Poder Executivo sobrepunha-se à lei e ao Judiciário. Saía-se de uma breve revolução. Forçava-se punição criminal comum como substrato da punição criminal política. A pessoa humana, o cidadão, era relegado a um plano inferior, secundário. Interessava-se apenas pelo Estado. A subversão da ordem influenciava a subversão do Direito, e a falta de soberania do Tribunal Popular. Naqueles tempos o Tribunal de Justiça podia reformar o veredito do Júri, o que não acontece mais hoje.

Segue, para ilustrar o sofrimento por que passaram os irmãos Naves, um trecho do livro de onde se extraíram as informações do texto supra, quando são descritas as torturas físicas e morais impingidas a Sebastião e Joaquim, pelo Delegado de Araguari, tenente Francisco Vieira dos Santos:

“Estamos a 12 de janeiro. Dia terrível para os irmãos Naves. O depoimento de Malta tinha sido tomado a 7. Nos cinco dias subseqüentes, o tenente era ferro em brasa. Diligências aqui, lá, acolá. Dia a dia, levava os presos pro mato. Longe. Onde ninguém visse. Nos ermos cerradões das chapadas de criar emas. Batia. Despia. Amarrava às árvores. Cabeça pra baixo, pés para cima. Braços abertos. Pernas abertas. Untados de mel. De melaço. Insetos. Formigas. Maribondos. Mosquitos. Abelhas. O sol tinia de quente. Árvore rala, sem sombra. Esperava. De noite cadeia. Amarrados. Amordaçados. Água? Só nos corpos nus. Frio. Dolorido. Pra danar. Pra doer. Pra dar mais sede. Pra desesperar. Noutro dia: vai, vem, retornam. O mesmo. Noutra noite: assim. Eles, nada. Duros. Nunca viu gente assim. Nunca teve de ser tão cruel. Tão mau. Tão violento. Nunca teve tanto trabalho para inventar suplícios. E, nada. Dia. Noite. Noites. Dias. Assim, assim. Um dia: 12, vão lá, à beira do rio Araguari, descem a serra. Eles vão juntos.
Depois, separados. Escondidos, um do outro. Amarrados nas árvores. Como feras. Como touros no sangradoiro. Pensam que é o fim. Não agüentam mais. Inchados. Doloridos. Dormentes. Esperam. Morre? Não morre? O tenente estava satisfeito. Tinha um plano. Perdera a noite. Mas valia, valeu. Conta pros dois, antes de separá-los, de amarrá-los longe, invisível um ao outro. Vocês vão morrer agora. Vamos matá-los. Não tem mesmo remédio. Não contam. Não confessam. Morrem. Morrerão. Separa-os. É a vez do Bastião. Tiros perto dos ouvidos, por trás. Gritos. Encenação. Ele resiste. Largam-no. Voltam para o Joaquim: Matamos seu irmão. Agora é a sua vez. Vai morrer. Joaquim era mais fraco. Aniquilado. Descora mais ainda. Não tem mais sangue. Verde. Espera. Tem piedade! Não me mate, seu tenente. Não tem jeito. Você não conta: morre. Bastião já se foi. Você vai também.

Irá com ele. Só se contar. Confessa, bandido! Confessa, bandido! Confessa! Não quer mesmo? Então, vamos acabar com essa droga. Podem atirar. Atenção: Preparar! Fogo! Tiros. Joaquim sente o
sangue correr perna abaixo. Não sabe onde o ferimento. Pensa que vai morrer. O delegado: Andem com isso, acabem com ele. Por piedade, seu tenente! Não me mate! Eu faço o que o senhor quiser! Pode escrever. Assino tudo, não me mate! Não agüento mais. Joaquim perde os sentidos. É levado secretamente aonde possa ser curado do ferimento. Mantém-se ausente. Feito o curativo. Não pode contar a ninguém. Caiu; machucou-se. Só. Tem de repetir tudo na Delegacia. Direitinho. Cara boa. Se não fizer, não terá mesmo outro jeito. Você é que sabe, Joaquim. Só se quiser morrer. Joaquim não mais vê Sebastião. Acha que está morto. Apavorado, procura controle. Quando está em ordem, levam-no à delegacia. Vai depor. Segunda. Terceira vez. Desta vez é confissão. Perfeita. Minuciosa. Bem ensaiada. Decorada como discurso de menino em grupo escolar…” (p. 58).




2 comentários:

  1. Paulo Roberto - Goiânia - GO28 de novembro de 2012 às 16:36

    Filme maravilhoso! Atuações brilhantes de John Herbert e Raul Cortês. Recomendo a todos que assistam. Quanto ao caso em si, mais uma vergonha da "justiça brasileira". E o pior é saber que isso está acontecendo até hoje...

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    1. Olá Paulo Roberto!

      Obrigado pelas palavras.

      Concordamos, realmente o filme foi muito bem dirigido e fotografado. Era 1967 quando "O Caso dos Irmãos Naves" estreou nos cinemas brasileiros.

      Em seu filme, o cineasta paulista Luiz Sérgio Person (1936-1976) mostrava um erro judiciário ocorrido em Araguari (no norte do Triângulo Mineiro, a 586 Km de Belo Horizonte). No centro do drama real, um delegado de polícia infligia os mais dolorosos maus-tratos para arrancar dos irmãos Joaquim e Sebastião a confissão de um crime que nunca existiu. Os fatos se deram a partir de 1937, ano da imposição do Estado Novo, regime de Getúlio Vargas. Mas Person fez um dos filmes políticos mais contundentes e contemporâneos que se podia ter notícia naquele momento conturbado para o país. A ditadura estava em curso, ainda que a tortura só fosse ser institucionalizada um ano depois, em 1968, com o AI-5.

      Muito disso se deve à opção de Person em reconstituir quase literalmente os acontecimentos em Araguari. Numa entrevista ao jornalista Ely Azeredo em 1966, diz o diretor: "Nosso desejo era, objetivamente, dar ao espectador o resultado de uma reflexão em torno de fatos e documentos reais. (...) Queríamos um filme seco, simples e direto, sem heróis, mas, ao mesmo tempo, de ideias, de comunicação, de um calor humano (...)".

      Leia mais em ---> Em DVD o clássico "O Caso dos Irmãos Naves", através do link:

      http://familiaresnaves.blogspot.com.br/2010/04/em-dvd-o-classico-o-caso-dos-irmaos.html


      e, em: 'Falece o ator e diretor Anselmo Duarte
      Cinema – Aos 89 anos, morre Anselmo Duarte, ator de “O Caso dos Irmãos Naves”'

      Anselmo faz o truculento militar que comanda a tortura aos suspeitos, tornados culpados antes do julgamento.
      através do link:

      - http://familiaresnaves.blogspot.com.br/2009/11/falece-o-ator-e-diretor-anselmo-duarte.html


      Posto isso, prezado Paulo Roberto, ficaremos felizes com a sua participação no “projeto blog Família Naves”.

      Caso seja um NAVES ou conheça um, visite o blog Família Naves e localize o grupo familiar correspondente na arvore genealógica Família Naves.

      A localização na árvore de costado da família se dá através de informações sobre familiares próximos, tais como pais, filhos, irmãos, primos, avós, bisavós, ...

      http://familiaresnaves.blogspot.com.br/2012/09/blog-familia-naves-ultrapassa-marca-de.html;

      Grande e fraterno abraço.
      Abilon Naves
      Blog Família Naves
      blogfamilianaves@hotmail.com
      http://www.familiaresnaves.blogspot.com
      https://www.facebook.com/abilon.naves

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